sexta-feira, 16 de novembro de 2012

RESENHA CRÍTICA DO FILME NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS.


Leitura Crítica do filme



Tendo o século XX como emblema, o filme-documentário Nós que aqui estamos por vós esperamos bombardeia o espectador com imagens de arquivos, extratos de documentários e de algumas obras clássicas do cinema, através de uma retrospectiva das principais mudanças que marcaram este século.
São personagens diversos: famosos e anônimos, com suas diferentes histórias e que, portanto, fazem parte da história do século XX. É preciso lembrar que este é o contexto que nasce com a Primeira Guerra Mundial e por isso as imagens desses personagens se fundem as imagens de arte e guerra, sonho e realidade, vida e morte.
O século XX.

O protagonista pode-se afirmar, é o século XX, visto que o diretor (o documentário foi feito com pouquíssimos recursos) foca os recursos cinematográficos na confusão de imagens que representam esse período da nossa história.
Dentre essas tantas imagens, são tematizadas as ilusões do homem do século XX em meio ao desenvolvimento tecnológico, guerras e tragédias e a avalanche de acontecimentos decorrentes desses avanços.
Dirigido por Marcelo Masagão e lançado no Brasil em 1999, esse filme-documentário concentra-se nos aspectos políticos-econômicos-sociais de um mundo que assistia a modernização industrial como parte de um processo em que os trabalhadores, como nos Tempos Modernos protagonizado por Chaplin, são apenas peças da engrenagem do capital. Os regimes políticos, totalitários, bem como as religiões, ilustram bem essas ideologia. Dessa forma, a perspectiva do filme é humanista, já que se preocupa em registrar o sentimento do ser humano frente a tantos acontecimentos.

Outro ponto importante a ser destacado são as mudanças no que diz respeito às formas de comunicação após o advento do telefone, da energia elétrica, do rádio e a evolução da independência feminina ao longo do século, considerando a produção de artefatos domésticos, carros, etc.
Associado a esse grande panorama do século XX, o diretor traz para o vídeo acontecimentos históricos marcantes como a queda do Muro de Berlim, a violenta Revolução Cultural na China de Mão Tsé-Tung dos anos 70; a exploração de metais preciosos em Serra Pelada, no Brasil; a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. No entanto, tais acontecimentos são permeados pelos impactos que estes causaram à vida da população mundial, como o desemprego, a fome, a perda da dignidade e o desprezo do mercado de trabalho pelos diplomas daqueles que os conquistavam.
Ainda na esteira da abordagem humanista do filme, o autor cita personalidades da época, como intelectuais, cientistas e até escritores, ditos subversivos à época, que tiveram seus livros queimados em praça pública por soldados nazistas. Ou seja, mais uma vez verifica-se que o objetivo do diretor é realizar um percurso pelo século XX, mas sem perder de vista os impactos desses acontecimentos e como a população interpretava tantas mudanças.

Ainda poderiam ser acrescentadas muitas imagens, mas a sensação causada pelo filme é a de que, justamente, torna-se difícil acompanhar tantas mudanças: solidão, injustiças, guerras, traumas, humilhações, desespero, protestos, suicídios, ilusões, Stálin, Hitler, Pol Pot, Franco, Pinochet, Médici, arte, nudez, Duchamp, Munch, sexo, Islamismo, Judaísmo, Hinduísmo, Candomblé, paz, Mahatma Gandhi... Que imagens podem o mundo da época ou mesmo nos representar? Não por acaso o filme é todo exibido em preto e branco e no fim, para fazer jus ao título, um cemitério é filmado em cores... A pergunta, bem sugestiva, coloca o expectador no centro das imagens com suas dúvidas, sensações, impactos... “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” deixa perguntas respondidas de diferentes formas por cada um que assiste à fita fílmica.

Não se trata apenas de consumir as imagens, é preciso interpretá-las, mas o diretor permite que o expectador o faça. O século XX representa, sem dúvida, um século de profundas mudanças no mundo, um momento de transição que impunha a sociedade valores que precisaram ser revistos posteriormente, sob pena de estarmos todos nós, hoje, subjugados a estigmas e imposições de ordem religiosa ou de ordem político-ideológica. Foi preciso que a sociedade evoluísse em termos psicossociais ou ainda em relação ao conhecimento sobre si mesmo, para que superássemos períodos de medo e opressão.

Ficha técnica

Título do filme: Nós que aqui estamos por vós esperamos (Brasil, 1998). Direção: Marcelo Masagão, responsável também pela produção, pesquisa e edição do filme. Elenco: não possui, utilizando-se apenas de imagens; 55 min. Música: Win Mestens Consultoria de história: José Eduardo Valadares e Nicolau Sevcenko Consultoria de psicanálise: Andréa Meneses Masagão e Heidi Tabacov.

3 comentários:

  1. Parabéns pela sensibilidade com a qual foi feita a análise do documentário brilhante...

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  2. Ajudou bastante. Obrigado.

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  3. me ajudou bastante em um trabalho da escola HUE obrigadoo...

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